Pico dos Marins - Serra da Mantiqueira, SP
- Jennifer Oliveira
- 10 de ago. de 2020
- 6 min de leitura
Atualizado: 12 de ago. de 2021
O Pico dos Marins é uma montanha pertencente ao município de Piquete, interior de São Paulo na divisa com Minas Gerais. Ele é considerado o 26º maior pico do Brasil e o 2º maior de São Paulo com seus 2.420 m de altitude. Para os praticantes de trekking e montanhismo, ele é um dos destino mais conhecidos, proporcionando aos visitantes um roteiro que demanda persistência e esforço físico em meio aos seus paredões íngremes mas que possibilita contemplar paisagens extraordinárias.

Há também a famosa travessia que percorre do Pico dos Marins até o Pico do Itaguaré, conhecida como Travessia Marins x Itaguaré sendo um dos trekking mais técnico da Serra da Mantiqueira e do Brasil, a travessia possui essa nomenclatura pela famoso "trepa-pedra" e escalaminhada fortemente presente no percurso.
A Serra da Mantiqueira é cheia de mistérios, aventura e também riscos. Há ocorrências de diversos casos de montanhistas experientes perdidos e até o curioso caso do escoteiro desaparecido que não foi encontrado até os dias atuais, por isso quero salientar aqui a importância da contratação de um guia local, não é somente pela localização do caminho adequado, mas também por proporcionar suporte para os pontos mais difíceis e saber lidar em situações extremas de emergência.
Apesar de todas as probabilidades de riscos, o local atrai visitantes de todos os lugares pela beleza da região que é verdadeiramente admirável, para se ter noção da riqueza do local a Serra da Mantiqueira em sua extensão foi eleita a 8ª área protegida mais 'insubstituível' da Terra em 2013 pela International Union for Conservation of Nature (União Internacional para a Conservação da Natureza).
A melhor época do ano para alcançar o cume é durante a temporada de montanha no período de abril a setembro, outono e inverno, onde as tempestades do verão são descartadas e o clima também se torna mais fresco o que auxilia na caminhada.
A minha experiência nesse lugarzinho se iniciou saindo do ABC Paulista e seguindo o trajeto de carro até a Base dos Marins, com duração média de 3 hs. O acampamento base fica dentro de uma propriedade particular do Sr. Dito, uma casa simples que possibilita o encontro da galera para iniciar a trilha, onde deixamos o carro e utilizamos o banheiro antes de seguir.
A única opção é fazer o rolê de carro mesmo, pois não existe ônibus direto da capital de São Paulo para Piquete, apenas para municípios vizinhos que possibilitam a conexão, porém recomendo sempre consultar primeiro o guia contratado, pois dependendo de onde ele mora pode ser de lá o ponto de partida da trip e dependendo da região pode ser que tenha ônibus direto até o município. Mas ônibus municipal até próximo a base é inexistente, por ser uma área isolada é necessário seguir de carro até ela.
A estrada é tranquila mesmo sendo em sua reta final apenas de terra, possui bastante curvas e a noite não possui iluminação. Confesso que só o caminho já surpreende, a vista é linda e de dia dá para avistar os paredões a partir dela.
Eu não acampei por lá o que facilitou o peso, mas se você tem a intenção de acampar vá preparado com água suficiente para beber e cozinhar (não há pontos de água no caminho), o mínimo de peso possível e roupas adequadas pois a madrugada pode chegar a temperaturas negativas.
Chegamos na Base dos Marins umas 22 hs da noite, mas iniciamos a trilha de fato por volta de 1h40, pois o restante do grupo e o guia acabaram chegando mais tarde. Nós iniciamos a trilha na madrugada, eu nunca tinha realizado uma loucura dessas mas garanto que foi uma das experiências mais incríveis que vivenciei. Em tese é mais perigosa, porém como eu não havia tido antes experiências com escalaminhada e trepa-pedra achei o trajeto noturno menos assustador por não se ter muita noção de altura devido a escuridão.
O trajeto é realizado em torno de 3 à 4 hs dependendo do ritmo de caminhada, cerca de quase 1 hora em mata semi fechada típica da Mata Atlântica, 1 hora em mata rasteira e o restante realizada em trilha com pedras, pouca vegetação típica dos campos de altitude, com predominância do capim elefante, com bastante escalaminhada e trepa-pedra, que nada mais é do que literalmente escalar as rochas, o que requer cuidado, atenção e companhia de quem já é experiente para te auxiliar, como no meu caso, onde tive receio durante o trajeto mais especificamente em alguns pontos que jurei não conseguir se estivesse sozinha.
Eu estava de tênis mas depois dessa trip entendi a necessidade de se trilhar com botas adequadas porque o tênis não trava a sola nas pedras e cria possibilidades mais vulneráveis para escorregar, o que lá dependendo do ponto pode ser fatal.

A primeira subidinha leva até o Morro do Careca, um espaço aberto que possibilita dar uma aquecida para a trilha e onde se começa a ter noção da altitude com as luzes da cidade ficando mais distantes.
Elevo a atenção para os cuidados com os animais da serra, no dia em que fui uma onça parda nativa da região estava rondando bem próximo de nós, o guia informou que há um casal por lá e é interessante antes de ir tentar se informar sobre épocas de reprodução do animal.
A subida segue forte, o trajeto é cansativo pois não há estabilidade de caminhos regulares e plainos e 100% do rolê é subida, por isso saliento aqui a importância de um bom preparo físico, resistência e experiência com o trekking para conseguir ter maior aptidão para fazer o caminho mais tranquilo.
Seguimos subindo passando pelos mirantes e percebendo as luzes das cidades cada vez mais distantes. Fazer escalaminhada de madrugada foi alucinante, tinha momentos que não acreditava que estava vivenciando aquilo, mas com o passar do tempo, o corpo foi se acostumando mesmo com frio de 3ºC não notável durante a subida íngreme.
Chegamos próximo ao pico por volta de 5 hs e pouco da manhã e o sol já estava começando a nascer, não subimos ao cume para ver o nascer do sol, estávamos cansados e decidimos parar para tomar nosso café da manhã. A sensação de tomar um café lá de cima é única e todo mundo precisa ter essa experiência na vida.


Quando o sol começou a esquentar, por volta de 9 hs da manhã decidimos subir até o cume que já estava bem mais próximo. Lá no topo possui uma caixinha de metal que abriga o Livro do Cume que é assinada pelos visitantes que chegam até o local. Confesso que lá senti Deus de forma diferente e lá mesmo me reconciliei com Ele, difícil não se emocionar diante de tamanha beleza.
Na descida do pico até onde a galera permaneceu tomando o café aproveitamos para fazer um lanche, nosso guia fez uma costela para a galera e nos energizamos para retornar, e por volta de 11 hs começamos a descer.
O bate e volta vale a pena, mas recomendo subir de dia para diminuir os riscos, acampar e descer com mais tranquilidade no dia seguinte. Ah! Na Base dos Marins eles vendem marmitex para quem preferir fazer uma boa refeição quando retornar.
Conforme fomos descendo na luz do dia deu para ter outra percepção da trilha e da estrada, a civilização cada vez mais perto e o Pico dos Marins cada vez mais longe e sinceramente, é inevitável não morrer de saudades de estar lá em cima de novo.
Informações Gerais sobre o Pico dos Marins (Visita em agosto de 2020):
Trekking e montanhismo (nível difícil com prática de escalaminhada e trepa-pedra, trechos técnicos);
Não possui trechos com água para consumo;
Possui sinal de celular em alguns pontos específicos da montanha.
Informações Importantes:
Recomendo a contratação de guia ou realizar o caminho com alguém que já foi e conhece o local;
Leve água suficiente para a ida, permanência e retorno;
Se alimente bem antes de ir e não coma alimentos pesados que possam lhe fazer mal durante o trajeto;
Barras de cereais e chocolates são ótimos energizantes no caminho;
Calce sapatos específicos para trilha;
Vista roupas adequadas para o frio na montanha;
Não deixe seu lixo na trilha ou na montanha (juro, não cai a mão levar o lixo com você);
Se for acampar leve seu Shit Tube, se você não sabe como fazer um clique aqui;
Respeite e preserve a natureza;
Se você se deparar com animais nativos da região respeite-os: eles moram ali, você não!;
Não jogue sementes de frutas no caminho, esta ação pode impactar o ecossistema da região;
Aproveite com consciência: não escute som alto no trajeto e na montanha desrespeitando as pessoas que estiverem no local;
Deixe e abrigue em si raízes boas por onde passar!
Quanto custa o rolê:
Combustível até a Base dos Marins: Vai depender de onde é o seu ponto de partida
Estacionamento na base: R$ 20,00
Guia: Dependerá do tipo de rolê que você escolhe fazer (bate-volta, acampamento ou travessia), os valores giram em torno de R$ 70,00 à R$ 300,00 por pessoa
Indicações:
Nosso guia foi o Gean, gente boa, parceiro e fez questão de priorizar toda a galera sem deixar ninguém para trás, respeitando as dificuldades e limitações de cada um: https://www.facebook.com/gean.guiademontanha
PS:
Este post é exclusivamente dedicado ao meu amigo e companheiro de trilha que me incentivou, impulsionou e me alicerçou em todo o trajeto. Sem dúvidas nada teria sido tão extraordinário e seguro como foi sem o suporte, compreensão e companheirismo dele!
Salvei aqui dentro do peito este rolê de forma especial.
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